Cleland se auto-afirma um dos experts do mundo sobre as práticas antiéticas do Google
Texano da cidade de Austin, Clealand é um típico republicano conservador do interior dos Estados Unidos. Quando jovem teve medo do comunismo e, hoje, defende as ações dos EUA na controversa Guerra ao Terror imposta pelo ex-presidente George W. Bush. Com 52 anos de idade, Clealand trabalhou na gestão de George Bush, o pai, como assessor do Departamento de Estado para Políticas de Informação e Comunicação. É acusado pelo Google de ser pago por suas concorrentes. Ele admite ter entre seus clientes empresas que disputam mercado com a empresa que considera a maior ameaça ao mundo civilizado. “Prefiro não revelar os nomes, mas posso afirmar que já trabalhei para a Microsoft". Seu livro fez algum barulho na mídia americana e, desde o seu lançamento, tornou-se colunista da versão online da revista Forbes
Confira a seguir os principais trechos da entrevista que Scott Clealand concedeu ao iG sobre o Google.
iG: No livro sua postura em relação ao Google é muito crítica. Por que você decidiu vilanizar a empresa?
Scott Cleland: O Google só está contando o lado bom da história, e existe um lado ruim. Meu livro é crítico porque está fazendo o que ninguém fez até agora. Eu não teria nada contra o Google se eles obedecessem a lei, se eles fossem éticos e confiáveis como dizem ser. O Google é a companhia mais poderosa do mundo. Eu não acho que estou vilanizando uma empresa se ela diz aos usuários que eles estão seguros quando, na verdade, eles não estão.
iG: Grandes corporações estão sempre infringindo leis, por que o Google é diferente de outras grandes companhias?
Cleland: O Googlé é único. Eles têm a missão de organizar toda a informação do mundo e torná-la acessível para todos. Isso parece lindo, mas o problema é que eles não respeitam o direito à propriedade ou à privacidade. A missão deles é coletar qualquer dado que encontrarem, seja propriedade de alguém ou informação pessoal. Eu acredito que se não tivermos direito à propriedade e à privacidade, não temos liberdade, dignidade ou segurança. O Google não se importa com o usuário e faz o que for preciso. Esse é um tipo de tirania, nenhuma outra companhia faz isso.
iG: Qual é a grande missão do Google?
Cleland: Eles afirmam que são uma empresa com fins lucrativos. Também dizem que querem mudar o mundo e que “não ser do mal” é o modelo deles. Eu acredito que a real motivação do Google é querer que o mundo funcione de acordo com a lógica deles. Eles genuinamente acreditam que sabem o que é melhor para todos. Quase tudo que você imaginar no universo online, o Google está envolvido. Eles são um monopólio e podem destacar o que quiserem na busca. Muitas vezes, o Google está em primeiro, ou segundo, ou terceiro lugar na ordem de busca, e 34% das pessoas clicam no primeiro link que aparece. Por isso, digo que o Google mente, eles dizem que não favorecem ninguém, mas estão sendo investigados na Coréia, na Europa, nos Estados Unidos,...
Para Cleland, a internet nas mãos das pessoas erradas pode gerar opressão, como na China
iG: Como O senhor vê o futuro se as medidas que você defende contra o Google não forem tomadas?
Cleland: Será um futuro horrível. Se você permite que uma companhia não respeite a propriedade ou a privacidade, todos se tornam servos, sem dignidade e identidade. A centralização das informações gera tirania. A internet é uma ótima ferramenta para o bem, mas nas mãos das pessoas erradas é também uma ferramenta de opressão. Por exemplo, a China, a Arábia Saudita e o Irã. Toda companhia deve estar submetida às regras e leis, e o Google pensa, assim como todo rei e déspota, que está acima da lei.
iG: O senhor acredita que no futuro o Google pode escolher o presidente dos Estados Unidos? O senhor acha que eles têm desejo por poder político?
Cleland: Sim, é preciso acompanhá-los de perto para que não manipulem eleições. Se quiserem fornecer informação para alguns dos lados, eles podem. Nos Estados Unidos, eles são muito próximos ao Obama.
iG: O senhor acha que essa relação com Obama está ajudando o Google a se livrar das investigações?
Cleland: Eu vejo que o Departamento de Justiça está trabalhando para julgar alguns crimes cometidos pelo Google. Acredito que o governo Obama apoiou muito a empresa no passado e agora está se tornando mais preocupado. Mas, o Google continua cometendo os mesmos erros ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, as autoridades estão atrás deles, investigando. O problema é que quando são punidos, isso é muito pouco significativo. A Comissão Federal de Comunicação dos Estados Unidos (FCC), por exemplo, multou a empresa em U$ 25 mil em abril desse ano. O Google ganha isso em um segundo.
iG: Em qual partido o senhor vota?
Cleland:Sou Republicano.
"O mal é o pior, é Hitler ou Stálin", diz Cleland
iG: O senhor acha que o Google pode se tornar uma tirania nos Estados Unidos em 20, 30 anos?
Cleland: Sim, eu tenho muito medo da distopia. Se eu acho que o Google é o “o mal”? Não! O único parâmetro que eles adotaram é “não ser o mal”, mas isso significa que ser antiético não tem problema. O mal é o pior, é Hitler ou Stálin. Eu acredito que eles precisam obedecer às leis e tratar os outros como querem ser tratados. O Google engana o sistema, diz uma coisa e faz outra
iG: O senhor afirma que o Google é perigoso porque acredita saber o que é melhor para todos. De alguma forma essa estratégia não é semelhante à política externa dos últimos governos dos Estados Unidos em algumas regiões do mundo, como na América Latina ou no Oriente Médio?
Cleland:Não, a América preza por sua liberdade e democracia. Não fomos perfeitos, cometemos muitos erros, mas o Google é muito diferente do governo norte-americano. Os Estados Unidos não têm desejo de dominar outros países, geralmente só age quando é ameaçado. O Google está indo em cada país e deixando a mensagem de que pode organizar as culturas, as finanças, o mercado financeiro de uma forma muito melhor do que a própria nação. Uma única fonte de informação não é bom para ninguém. As pessoas querem ter a oportunidade de escolher. A minha mensagem é que a concentração de poder é assustadora e nunca vimos algo como o Google na história.
iG: O senhor usa o Google?
Cleland: Eu não odeio o Google, e uso alguns dos produtos deles, mas tento evitar ao máximo. Confesso que eles são muito bons em tecnologia e podem ser muito inovadores. Mas, eles são uma companhia perigosa.
iG: O senhor trabalha em uma empresa de consultoria e já declarou que tem como seus clientes empresas que são concorrentes do Google. Isso não torna seu trabalho tendencioso?
Cleland: Eu trabalhei para algumas companhias da Fortune 500, e algumas eram concorrentes do Google. Acho que é importante que as pessoas saibam quais são meus interesses. Nenhum dos meus clientes sabia que eu estava escrevendo o livro. Em Corte, quando testemunhei contra o Google, já afirmei que trabalhei para a Microsoft. Eu sou um dos experts do mundo sobre as práticas antiéticas do Google, eu já escrevi mais sobre esse tópico do que qualquer outra pessoa no mundo e é normal que eu tenha trabalhado para grandes empresas.
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